Angkor Wat – ou “cidade templo”, em sânscrito – é maior que qualquer catedral medieval e protegida por um fosso. O templo ergue-se nas regiões alagadiças no centro do Camboja. Sua altura é duas vezes maior que a da Torre de Londres, representando um dos maiores projetos de engenharia da história – não apenas pelo tamanho, mas por ter sido construído sobre água. Angkor Wat flutua sobre um pântano sustentado por diversas galerias subterrâneas. O local foi construído ao longo de 35 anos (muitas catedrais europeias levaram mais de 200 anos e são frequentes vezes menores que Angkor Wat).
Angkor Wat faz parte do complexo conjunto de templos construídos na zona de Angkor – a antiga capital do Império khmer – durante a sua época de esplendor, entre os séculos IX e XV. No local foram encontradas mais de mil ruínas de templos com diversos tamanhos e estilos; no entanto, Angkor Wat é o mais imponente e famoso, sendo considerado o maior monumento religioso e tesouro arqueológico do mundo. O templo é o principal representante da arquitetura angkoriana, sendo a sua mais refinada realização, e é também a ultima construção realizada sob influência puramente hinduísta. O que levou seu rei a construir esse magnifico templo foi a insegurança causada pela forma como chegou ao poder – usurpando o trono do tio aos 14 anos. Pretendendo consolidar-se como legítimo rei, Suryavarman II, no começo do século XII, foi orientado por seus conselheiros e iniciou a construção do templo: a arquitetura e a arte são em diversas culturas uma forma de um rei provar ser o escolhido pelos deuses para reinar. Construir um templo é uma das maneiras de os reis Khmer demonstrarem seu poderio, por isso existem mais de 700 templos espalhados pelo Camboja.
Sua primeira decisão foi a escolha de Vishu como padroeiro – deus hindu, sempre escolhido pelos reis em tempos de guerra. E em sua homenagem começou-se a erguer Angkor Wat. O material escolhido não foi a madeira – comum nas construções do povo Khmer – pois esta, assim como os homens, tem um fim. Para a tarefa trouxeram cerca de cinco mil operários de todos os lugares dos reinos, que buscaram pedras e matérias das regiões mais longínquas, revestiram o pântano e construiram um complexo sistema de engenharia para o templo não afundar. Além do povo, o rei requisitou arquitetos, filósofos, poetas e profetas neste projeto, para que sua alma fosse direto para o paraíso com a construção do templo. Sua escala é divina, reproduzindo na terra o mundo dos deuses em ricos detalhes. A concepção do templo é baseada no Monte Meru, a morada dos deuses, que estaria localizada em um dos cinco montes ao norte do Himalaia. Por isso, no centro fica a torre principal, rodeada por cinco torres – com formato de flor de lótus – que se elevam a 65 metros dos pântanos.
A construção é toda em laterita – um tipo de solo que, quando seco, se torna uma rocha resistente. Esta rocha não é muito bela e está cheia de buracos, o que impossibilitava o trabalho dos escultores para realização dos baixos-relevos e outros entalhes. A solução veio da vizinha Índia, que utilizava o arenito nas esculturas de suas construções. Assim, blocos gigantes de quatro toneladas foram transportados pelos canais.
Esses baixos-relevos ocupam toda a superfície do templo, seja em forma de adornos arquitetônicos, geométricos, florais, figuras femininas – presença onipresente – ou simplesmente imitando telhas, portas e janelas. Cenas do livro Mahabharata, Ramayana, Bhagavata-Purana – textos clássicos da literatura hindu – assim como um desfile do rei Suryavarman II com as suas tropas são retratados nessas obras.
Quinhentos acres de floresta tropical foram destruídos para a construção do templo. Uma tarefa árdua, dificultada pela falta de ferramentas adequadas, longe das fontes de pedras, com o tormento de insetos e animais, um calor escaldante e as monções. O local era o mais complexo possível (uma planície alagada), mas simbolicamente o mais perfeito, pois era o centro do império.
A construção foi pensada primeiramente como túmulo do imperador, mas após sua morte os trabalhos foram interrompidos e o local tornou-se o centro político e religioso do império, abrigando o templo principal e o palácio real. Seu sucessor, Jayavarman VIII, que antes era monge budista, mandou remodelar o templo para adaptá-lo ao seu culto. Mas nesse período o Império Khmer já entrara em declínio.
Mesmo após a decadência do império, os monges e alguns habitantes permaneceram no templo. Hoje, os esforços para restaurá-lo – já foi vitima de saques do Khmer Vermelho na década de 1970 e de contrabandos – envolvem pessoas de todo o mundo. Sua representatividade é tamanha que sua silhueta aparece na bandeira do Camboja, tornando-se símbolo do país e seu principal ponto turístico. Seja pela história ou magnitude, Angkor Wat é o maior entre todos os templos.
Fonte: http://obviousmag.org